segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Porque Fernando Pessoa me descreve...

Não sei quantas almas tenho.



Cada momento mudei.


Continuamente me estranho.


Nunca me vi nem acabei.


De tanto ser, só tenho alma.


Quem tem alma não tem calma.


Quem vê é só o que vê,


Quem sente não é quem é,






 Atento ao que sou e vejo,


Torno-me eles e não eu.


Cada meu sonho ou desejo


É do que nasce e não meu.


Sou minha própria paisagem;


Assisto à minha passagem,


Diverso, móbil e só,


Não sei sentir-me onde estou.






 Por isso, alheio, vou lendo


Como páginas, meu ser.


O que segue não prevendo,


O que passou a esquecer.


Noto à margem do que li


O que julguei que senti.


Releio e digo : "Fui eu ?"


Deus sabe, porque o escreveu.


[fernando pessoa ]

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Quando cresci, me perdi.


Quando você era criança o que você queria ser quando crescer? Quantos filhos queria ter? Com quantos anos imaginava que se casaria? Sonhamos e fantasiamos, sobretudo nós, as meninas, com essas respostas. Ou melhor, com o tempo em que essas respostas fossem concretas.


Quando eu era criança queria crescer rápido pra não ter que levantar cedo para ir à escola. Nem ter que ter a sagrada ‘semana de prova’. Odiava quando ouvia: “saia daqui menina, isso é conversa de adulto”. Morria de curiosidade em saber que raio de conversas eram essas!

Hoje que sei o conteúdo de várias dessas conversas; depois de formar na profissão que sempre quis; de realizar alguns dos sonhos e de acalentar na fila de espera, uma penca de tantos outros que esperam sua vez e a oportunidade, tenho a sensação que eu devia ter feito mais, ter feito melhor... ter feito diferente. Guardo desde não lembro quando um nó na garganta. Nó que pesa a consciência por tropeços quando na escolha de alguns caminhos, de alguns trajetos e de um tanto assim de atalhos. Em vários desses últimos cheguei tão antes que me perdi nas contas do tempo.

O tempo vive de pregar peças. Não me reconheço no espelho de agora. Perco-me entre projetos e lembrança. Confundo-me entre desejos e conquistas. Parece que a música agitada deu pausa justamente naquele instante em que eu soltava um palavrão e todos me olharam com cara de reprovação. Mais quem nunca soltou um ‘CARALHO’ para expressar dor ou vitória?

Quais projetos idealizados você já realizou? Quais você jogou fora? Quais dos seus melhores amigos de infância ainda convivem com você? Quantas vezes teve de mudar de escola, de cidade, de Estado? Quantas vidas em uma só serão necessárias para escrever um novo fim?

terça-feira, 14 de setembro de 2010

insatisfação.

Quantas por repetidas vezes lhe ocorrem às perguntas: "O que eu estou fazendo da minha vida?" ou "Será que vale a pena?" ou "Até onde vale a pena tanto esforço?" São perguntas que por si já denotam a resposta. O nome, na verdade, disto tudo não mais é que INSATISFAÇÃO!
Ela pode ser um divisor d'águas em nossa vida. Ela pode ser a força propulsora que nos faltava. Ainda em decorrência desta, nos deparamos com o fator MUDANÇA. E toda mudança exige esforço, força de vontade e determinação; é geralmente dolorosa e lenta.
É preciso mudar hábitos, mudar de endereço, de cidade, de emprego, de chefe. Mudar os planos, os sonhos e os objetivos. Ou simplesmente mudar de estratégia.
Ou seja, é a insatisfação que nos move, que nos faz perceber que aquele grande amor não era tão grande assim; que aquele sonho na verdade era medíocre demais; que aquela pessoa não era tão sua amiga quanto parecia... que você merece e pode muito mais.
Eu sempre me culpei por ser exigente. Eternamente insatisfeita com tudo. E quer saber? Eu prefiro assim. Tudo que aí está pode e deve ser mais, pode ser melhor, mais mágico, mais importante, mais inesquecível.
A insatisfação é com certeza coisa de Deus. Quer ver observe. Não há só dia ou só noite. Não há só frio ou só calor. Não há só praia ou só montanha. Não há só flores ou só frutos.
De qualquer forma, a insatisfação promove mudanças. E, geralmente, mudanças nos fazem aprimorar e refinar os anseios e desejos. A gente se recria, se reinventa.
Voltei!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Por que metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mlher que eu amo seja para sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa de um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corroe por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra é um vulcão
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei
Que não seja preciso mais que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço
E que minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

(Osvaldo Montenegro)