segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Por que metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mlher que eu amo seja para sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa de um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corroe por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra é um vulcão
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei
Que não seja preciso mais que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço
E que minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

(Osvaldo Montenegro)